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Do fruto do babaçueiro à cozinha paraense, agroecologia e luta pelo território

No nordeste e no norte do Brasil, movimento das mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu e ponto de cultura alimentar paraense são exemplos nacionais de agroecologia, de luta pelo território e por um modo de vida

baixa-20180505_Comunidade-Cajá_Quebradeiras-de-coco-babaçu_Dom-Pedro_Maranhão_TBauer-(3-de-3).jpgComunidade Cajá, D. Pedro/MA. Foto: Thomas Bauer

Do coco babaçu saem sabão, óleo, carvão, cosméticos, leite vegetal, artesanato e até combustível. Isso sem falar nas outras partes da planta que são utilizadas para fazer telhados, como as folhas, ou adubo, como é o caso do caule. É uma das palmeiras típicas do Nordeste do Brasil que gera 80% da renda para milhares de famílias pelos estados da região. Porém, antes de serem gerados os subprodutos, é preciso quebrar o coco.

Quebradeira de coco é profissão que sempre existiu no feminino, e foi também a feminina “luta” que reuniu, no começo da década de 1990, mulheres dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará para a criação do MIQCB, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu.

Com quase 20 anos de história, a organização, entretanto, começou a germinar algum tempo antes, lá em meados da década de 1960, quando a aura repressiva da Ditadura Militar também repercutia no campo. “Fomos descobrindo que aquilo não era partilha, solidário, era escravidão. Mas essa história foi todinha pra gente se libertar e viver em grupo. Fomos tomando a iniciativa, entrando de mutirão na terra”, conta Maria Alaídes Alves de Souza, Quebradeira de Coco de Lago do Junco/MA e coordenadora geral do MIQCB. 

Isso porque, na época, as extrativistas trabalhavam sob o sistema conhecido como “quebra de meia”, em que metade da produção ia para o proprietário da terra onde se encontrava o nativo babaçual. Por um quilo de arroz, chegava-se a pagar dez de coco e para obter uma linha de terra para plantar, três quilos do cereal iam direto para o fazendeiro, como lembra Maria.

No final da década de 1980, essas mesmas mulheres, guerreiras, aram a se organizar em clubes de mães, onde, além da educação dos filhos, discutiam os rumos que teriam que tomar a fim de garantir os próprios direitos na quebra do coco. “Essa discussão interna foi criando uma essência de unicidade entre nós, que aprendemos a tomar muitas decisões coletivas”, pontua a liderança maranhense.

Com a criação oficial do movimento, em 1991, a articulação tomou corpo e, apesar da constante e incansável luta contra o agronegócio, os agrotóxicos, o avanço da fronteira agrícola e a violência no campo, comemorou importantes conquistas, como a aprovação da Lei do Babaçu Livre em alguns municípios – que, entre outras medidas,  proíbe a derrubada das palmeiras e permite a coleta do coco em propriedades privadas e terras comuns –, a organização em cooperativas, o rompimento com atravessadores e a formação de um mercado consumidor estruturado. E tudo feito através da união e da troca entre mulheres.

“É dentro da solidariedade que a gente aprende a viver na sociobiodiversidade sem agredir. É a agroecologia. É muita vontade nossa que esse projeto seja referência para a segurança alimentar”, fala Maria. Hoje, entre os babaçuais que geram renda e subsistência às Quebradeiras e suas famílias crescem alimentos como macaxeira, milho, feijão e arroz, exatamente como orientam os princípios da agroecologia. “Nós, do MIQCB, junto a outros povos, quilombolas e indígenas, pretendemos fazer essa grande aliança em busca de ampliar essa proposta de produção que damos o nome de agroecologia.”, conta a coordenadora geral do movimento.

Conexão é palavra de ordem.

Como uma verdadeira “rede de redes da sociedade civil”, como diz a própria integrante da secretaria executiva da articulação, Flávia Londres, a ANA (Articulação Nacional de Agroecologia) atua desde 2002 conectando esses povos e comunidades tradicionais, movimentos sociais, organizações e entidades que se identificam com os temas que permeiam os direitos territoriais, a questão agrária, a agricultura familiar, a agroecologia, entre outros.

Com o objetivo de gerar propostas de políticas públicas e fortalecer o diálogo com a esfera institucional, a articulação se apoia principalmente nas vivências do território. “Todos os nossos aprendizados, as propostas que se constroem e os temas que debatemos partem das experiências que acontecem no território, de temas reais, promovendo intercâmbios entre experiências e aprendendo com elas, e conectando grupos de diferentes lugares”, pontua Flávia.

Outra frente importante de trabalho da ANA é a comunicação, que prevê tornar conhecidas as experiências e dar maior visibilidade às mesmas, pautando os temas que permeiam os territórios em agendas mais abrangentes e abordando a temática da agroecologia dentro da sociedade de uma forma mais ampla. Afinal, essa ciência diz respeito a todas e todos.

Caravana Agroecológica e Cultural de Santarém - ANA_Arquivo.jpgCaravana Agroecológica e Cultural de Santarém. Foto: Arquivo ANA

“Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia">Em nome do alimento bom, limpo e justo para todas e todos, cozinheiros e cozinheiras, Quebradeiras, jornalistas, comunicadores, agricultores familiares, ativistas do mundo, “uni-vos”! Por uma alimentação saudável e de qualidade para todas e todos, pela agroecologia como futuro da alimentação, pela valorização da cultura alimentar brasileira e pelo direito à terra para quem nela trabalha.

Conheça os outros materiais do projeto Tecendo Rede pelo Alimento Bom, LImpo e Justo para Todos, sobre o tema da agroecologia:
> Animação sobre agroecologia
> Documento de Posicionamento
> Live Agroecologia – O Futuro da Alimentação  

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