As pequenas hortas do assentamento de reforma agrária 12 de Julho são abarrotas de plantas bem à moda brasileira, carreiras de mandioca e batata-doce que predominam por entre algumas humildes mudas de alface e pés de tomate. São hortas como tantas outras hortas rurais e urbanas espalhadas por nosso país. No entanto, por entre as fileiras destas hortaliças encontramos muitos pés de radite, uma planta também bem conhecida, apesar de não tão habitual em nosso cotidiano alimentar e que chama atenção não por estar presente nestes lugares, mas por predominar em diversidade e em quantidade em praticamente todas as casas deste assentamento. Em outras palavras, é muita radite para pouca mesa.
Sejamos sinceras, ninguém come tanta radite assim, é uma planta um tanto embotada em relação a plantas como a mandioca e o feijão, ela fica meio de lado até mesmo entre as muitas receitas de Plantas Alimentícias Não Convencionais que circulam pela internet. As agricultoras assentadas também não comem essa salada todos os dias, mas definitivamente a elegeram como planta favorita para ser cultivada em suas hortas e forrageada campo afora.
Radite, aqui, é um termo genérico para uma pluralidade de folhas comestíveis amargas forrageadas ou cultivadas por um grupo de agricultoras de ascendência italiana assentadas há trinta anos no 5° distrito de Canguçu, cidade sul-rio-grandense, através do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Peço, assim, por gentileza, que nos desapeguemos por alguns minutos de classificações botânicas. Com isso não estou dizendo que para as assentadas do 12 de Julho toda folha amarga é radite, mas muita folha amarga pode vir a ser uma radite.
Radite pode ser o pão-de-açúcar, o almeirão, a língua-de-vaca, o piçacam ou a serraia (serralha). E, de qualquer modo, nenhuma dessas é muito presente em nossas mesas. Pode ser planta de capoeira, daquelas que dão no mato, mas também pode ser planta cultivada na horta e, como vimos logo acima, muito bem cultivada.
Desde 2016 mantenho uma relação de pesquisa em antropologia junto a estas agricultoras e há tempo me pergunto o motivo de elas catarem e terem tanta radite plantada, embora não a comam com tanta frequência. Para que plantar tamanha quantidade, quando só se vai comer de vez em quando"> Comments:

Que lindo seu texto! Crônica elegante e muito sensível! Só posso dizer: Parabéns e não pare!! Obrigada por compartilhar!!! <3